sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Nunca fui primeira-dama - GUERRA, WENDY (turma A - manhã)



Com Nadia Guerra, seu alterego ficcional, a romancista e poeta Wendy Guerra escreve a história proibida das mulheres de Cuba. Publicado em oito países, cruza ficção e realidade no relato de uma mulher obcecada pela idéia de encontrar sua mãe, que a abandonou aos dez anos de idade.
O livro tem início com a livre manifestação de Nádia na mesma rádio, em meio às sombras da noite que avança pela madrugada, manifestando sua rebeldia e inconformismo, ao mesmo tempo em que divulgava a música popular dos antigos artistas cubanos, que seriam redescobertos na década de 80 e batizados de Buena Vista Social Club. Nesta reflexão ao vivo, dirigida a algum ouvinte insone, ela discorre sobre sua terra natal e os heróis nela produzidos; não os ícones intocáveis, mas seres que vivem e respiram, suscetíveis de serem analisados e até mesmo criticados. Para a autora e seu alterego, os verdadeiros personagens heróicos são os habitantes da ilha, como seus próprios familiares e elas mesmas, que, cada um a seu modo, resistiram às mudanças e imposições da Revolução.
A busca por Albis Torres é também uma viagem a seu próprio passado e às salas escuras do regime cubano. Ao trazer a mãe de volta a Havana, resgatada em Moscou com uma doença que lhe tirou a memória, Nadia Guerra descobre no interior de um baú preto, os rascunhos de um romance que sua mãe escrevia sobre Célia Sanches, secretária pessoal de Fidel Castro.
A mãe da protagonista foi obrigada a se exilar somente por ter ousado escrever esse livro-tabu. Assim ela deixa a filha e parte para o exterior.
A narrativa segue os meandros de fragmentos de diários, poesias, letras de músicas, epístolas, documentos, textos históricos e recordações, intercalados entre si ao sabor de memórias errantes.É assim que se ingressa simultaneamente nos universos de Nádia/ Wendy e de Célia Sánchez, austera revolucionária, mulher determinada, fiel ao Comunismo, de caráter intenso, religiosa, exaltada pela paixão de seus ideais, amante das artes.
Wendy é uma daquelas militantes culturais que optaram por resistir em seu próprio país; ela nem sequer se imagina distante de sua ilha, a quem, como outros artistas, é sem dúvida fiel. Sua escrita traduz não somente os recursos literários de que dispõe, mas também suas experiências com o universo cinematográfico, as artes e a música. O resultado é uma narrativa singular, íntima, tecida por retalhos poéticos e lampejos de memórias e meditações. Ao materializar o romance censurado, Wendy Guerra coloca-se no papel de sua personagem, agora na vida real. E corajosamente enfrenta os limites do regime de Cuba, onde ainda mora e sua obra permanece sem publicação.
Esta obra é o resultado das percepções poéticas, vivas, intensas e verdadeiras da autora sobre a ilha de Fidel, que é também sua por opção, uma vez que escolheu permanecer neste recanto que abriga sua identidade, suas memórias e os próprios ideais. Integrante da terceira geração pós-revolução, Wendy Guerra vê em Cuba, apesar da carência de liberdade, a expressão palpitante de seus sonhos, desejos e lutas por um regime mais flexível e livre, sem que seja necessário abrir mão das conquistas já realizadas.

Por Vanessa de Castro

Nunca fui primeira-dama
Autor: GUERRA, Wendy
GRUPO: Angela Paixão, Vanessa de Castro

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