Nascido em Cataguases, MG, em 1961, Luiz Ruffato é formado em Comunicação pela Universidade Federal de Juiz de Fora e exerceu o jornalismo em São Paulo. Publicou Histórias de remorsos e rancores (1998) e Os sobreviventes (2000), ambos coletâneas de contos. Ganhou os prêmios APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) e Machado de Assis da Fundação Biblioteca Nacional com o romance Eles eram muitos cavalos, de 2001, livro publicado também na Itália (Milão, Bevino Editore, 2003), na França (Paris, Métailié, 2005) e Portugal (Espinho, Quadrante, 2006). Em 2002, publicou As máscaras singulares (poemas) e Os ases de Cataguases, contribuição para a história dos primórdios do Modernismo (ensaio). Em 2005, iniciou a série Inferno provisório, projetada para cinco volumes, com os livros Mamma, son tanto felice e O mundo inimigo. Destes seguiram-se Vista parcial da noite e O livro das impossibilidades. Esses romances foram premiados pela APCA como melhor ficção de 2005.
Qual é a conexão entre o seu trabalho e a cidade de Cataguases, onde você nasceu?
Ruffato: Tive o privilégio de nascer em Cataguases não pelo fato de ela ter sido uma cidade modernista e que teve uma revista e uma arquitetura importantes, mas por ser uma cidade industrial há cem anos. Isso mudou completamente o meu conceito de visão de mundo que, teria sido outro se eu fosse oriundo de uma cidade rural. A mentalidade é completamente diferente. Pude, desde a mais tênue infância, perceber as contradições sociais e as questões econômicas que envolviam tudo aquilo. Havia os donos das indústrias que ninguém conhecia, que nem rosto tinham; uma classe média, como médicos, engenheiros e diretores, que dá apoio aos proprietários; o pessoal que trabalhava na fábrica; e um último bloco de marginalizados e prostitutas. Tudo era muito estruturado. Quando pensei em escrever, não tinha nenhuma dúvida que a minha literatura teria que ser urbana, em primeiro lugar, e que tinha de tratar de questões ligadas à questão operária. Isso para mim sempre foi muito claro.
O que é ser escritor para você?
Ruffato: Costumo brincar dizendo que sou um escritor que nunca sonhou ser escritor. Na minha infância, queria ser bancário, porque o marido da minha professora exercia essa função e achava que, sendo bancário, ia poder conquistá-la. Mas me formei torneiro mecânico e fui trabalhar na área. Depois entrei no curso de jornalismo, na Universidade de Juiz de Fora. Só muitos anos depois é que realmente fui pensar de uma maneira mais consistente em ser jornalista e, depois, em ser escritor. Estreei muito tarde, em termos de literatura brasileira, com 37 anos. Antes disso, fiz algumas experimentações para saber exatamente sobre o que escrever e sobre como escrever o que eu queria.
O que você pode deixar como recado para quem tem o desejo de ser escritor no Brasil?
Ruffato: Independentemente de ser escritor ou não, se você tem um sonho e acredita nele, tem que lutar e brigar por ele. No caso do escritor, é impossível ser um sem ler. Tem que ler muito e conhecer profundamente o seu instrumento de trabalho, que é a língua, assim como a teoria literária. É bom saber ainda que os seus melhores críticos vão ser aquelas pessoas que te amam profundamente, ou seja, aqueles que vão te criticar mesmo. Nunca acredite na crítica positiva por ela mesma, acompanhada de uma batidinha nas costas: “Você é ótimo, maravilhoso”. Sempre desconfie disso.
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