Croqui selecionadoConstruções Imagéticas
Nathalia Marques.
Resenha de Amar, verbo intransitivo.
Amar, verbo intransitivo, romance de Mário de Andrade escrito em 1927 faz parte do movimento Modernista. Na obra o autor faz uma critica inegável à burguesia da época, ao comportamento do novo rico que acha que o dinheiro pode ser a solução para tudo, são ricos que ainda não tem estrutura para merecer seu presente status.
A história é temporal, o narrador é o própio escritor, que narra todas as situações de forma como se fosse para ser ouvido e não lido. A obra não é dividida em capítulos, mas há espaços maiores entre os trechos que subentendesse essa divisão. Uma coisa curiosa é que Mário de Andrade escreve a palavra fim, mas continua com a história, mostrando a vida dos protagonistas depois do fim do idílio entre os dois; outra coisa é que é o própio autor que classifica o romance como idílio, que significa pequena poesia campestre ou amor poético e suave.
O romance conta a história da iniciação sexual do protagonista Carlos Alberto, filho de Felisberto Souza Costa e D. Laura. Felisberto preocupado em prepará-lo para todas as situações da vida e sendo o único herdeiro homem da família, contrata uma profissional para esta função, chamada Elza e conhecida como Fräulein, palavra alemã, que significa senhora ou professora. O grande medo de Felisberto S. Costa era que o seu filho tivesse a iniciação sexual em um prostibulo podendo ser explorado pelas prostitutas ou até se tornar viciado por influencia delas. Fräulein entra no lar burguês de Higienópolis para ser governanta e ensinar alemão aos quatro filhos do casal. Sendo maquiada de forma hipócrita toda essa situação no lar burguês. Pode-se afirmar que a intenção do chefe de família foi disposta ao fracasso, pois Carlos não era virgen. Ele havia tido sua primeira experiência sexual no Ipiranga, em meio a farra de seus amigos, com uma prostituta. Mas fora um ato mecânico, seco, pressionado pelos amigos.
Fräulein quer ensinar o amor em sua forma tranquila, sem descontroles, sem paixões. Por mais que Elza se apresente sedutora nos momentos em que os dois ficam sozinhos na biblioteca estudando alemão, o garoto não percebe as intenções dela.
Com o passar do tempo e da convivência brota o interesse do menino por ela. É algo que não se revela em primeira instância. Começa com o interesse que o garoto tem repentinamente por tudo que se refere a Alemanha, acelerando até o conhecimento da língua.
A mãe, alheia ao que estava acontecendo, estranha o apego do filho à mestra e vai conversar com a alemã, ingenuamente preocupada com a possibilidade de o menino fazer besteira, sendo assim toda a situação é revelada para D. Laura.
O contato corporal se torna mais intenso, o que assusta Carlos. Medo e desejo. Delicadamente Fräulein vence. Em pouco tempo a iniciação sexual torna-se afetiva. Os dois acabam assumindo uma cumplicidade gostosa, o que indica o amadurecimento de Carlos. É uma situação preocupante, pois Fräulein acaba se envolvendo.
Preocupada em não perder o controle da situação, decide acelerar o término da sua tarefa. Que tudo termine de forma dramática, era assim que o pai do menino queria. Acerta com Souza Costa um flagrante. Finalizando sua lição.
Tempos depois é carnaval. Em meio a folia de rua, Elza localiza Carlos e chama a sua atenção. O rapaz a cumprimenta formalmente. Estava ocupado em curtir a garota que lhe faz companhia. Fräulein tem uma mistura de emoções. O rapaz, depois de tudo que ocorreu mostrou-se frio.
O amor intransitivamente ou indiretamente é amar não se importando com o objeto ou quem seja. É como se quisesse ensinar que o mais importante é aprender a amar intransitivamente para depois poder amar alguém transitivamente ou diretamente.
A partir daqui podemos fazer as seguintes perguntas: por que intransitivo, se amar é verbo transitivo? Sera que o autor quis nos mostrar, então, como é esse amor intransitivo? O amor intransitivo seria apenas um amor carnal, sem complemento, sem compromisso, diferente do amor transitivo onde se contrói um relacionamento seja ele qual for. Mas, será mesmo que é possivel esse amor intransitivo? Podemos perceber no fim do romance que Fräulein sente-se abalada quando percebe a indiferença de Carlos, Fräulein mesmo mostrando-se forte e profissional parece que saiu machucada desse "relacionamento".
O livro ainda nos leva a viajar pelas ruas de São Paulo, imaginando sua estrutura nos anos 20 e também a forma como as pessoas se vestiam. O que se torna material valioso para ós, podendo usar toda a influência de uma época aliada aos movimentos importantes que ocorreram como um meio para alcançarmos a proposta do trabalho.
Mas, sem dúvida, aqui a questão mais importante é o amor e suas formas diretas ou indiretas. O amor é uma troca: de carinho, afeto, energia, experiências. Você deixa um pouco de você e leva um pouco do outro. Ficam as lembranças, uma amizade, ódio ou a indiferença. É algo dificil de construir, mas muito fácil de desconstruir. O amor transitivo ou intransitivo depende então do relacionamento que cada um constrói?
Mário Raul de Morais Andrade (1893 - 1945) nasceu em São Paulo, cidade que amou intensamente e que retratou em várias de suas obras. Estudou música no Conservatório musical de São Paulo e cedo iniciou sua carreira como crítico de arte em jornais e revistas. Com apenas 20 anos e com o pseudônimo de Mário Sobral, publicou seu primeiro livro Há uma gota de sangue em cada poema, no qual fazia criticas a carnificina produzida pela primeira Guerra Mundial e defendia a paz. As inovações formais da obra desagradavam os críticos de orientação parnasiana.
O autor teve papel decisivo na implantação do modernismo no Brasil. Homem de vasta cultura, pesquisador paciente, Mario soube dar a substância teórica de que necessitava o movimento em algumas ocasiões decisivas.
Autor de uma frase como "o passado é lição para se meditar e não para se reproduzir", o que mais impressiona em Mário de Andrade é a capacidade de conciliar, em plena euforia da "destruição" dos primeiros embates modernistas, as lições do passado e as conquistas do presente.
A atividade literária em prosa de Mário de Andrade foi ampla. O escritor ultivou o conto, com Primeiro andar (1926); a crônica, com Os filhos de Candinha (1945); o romance, com Amar, verbo intransitivo (1927); a rapsódia, com Macunaíma (1928).
Em quase todas essas obras se destaca a preocupação com a descoberta e a exploração de novas técnicas narrativas, e ao mesmo tempo com a sondagem do universo social e psicológico, fundada nas teorias de Freud.
Um comentário:
Agente arrasa sempre =)
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